Elipse: O Poder do Subentendido na Língua Portuguesa

Elipse: O Poder do Subentendido na Língua Portuguesa

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Imagem: Figuras de linguagem esquematizada

A língua portuguesa é repleta de recursos que tornam a comunicação mais expressiva, dinâmica e eficiente. Entre esses recursos, as figuras de linguagem ocupam um lugar de destaque. Elas são ferramentas que permitem criar efeitos de sentido, beleza, ênfase e até humor em nossos discursos, tanto na fala quanto na escrita.

Dentre as várias figuras de linguagem, a elipse é uma das mais sutis e, ao mesmo tempo, mais presentes no nosso dia a dia. Ela aparece com tanta naturalidade que, muitas vezes, nem nos damos conta de que estamos usando-a. Neste artigo, vamos entender o que é a elipse, como ela funciona, quais são seus efeitos na comunicação e como utilizá-la corretamente.


O que é Elipse?

De forma simples e direta, a elipse é uma figura de linguagem caracterizada pela omissão de um termo que pode ser facilmente subentendido pelo contexto. Esse termo pode ser um verbo, um substantivo, um pronome, um adjetivo ou qualquer outro elemento que, mesmo ausente na frase, não compromete sua compreensão.

A palavra elipse vem do grego elleipsis, que significa “falta” ou “omissão”. Na prática, usamos a elipse para evitar repetições desnecessárias, tornar a comunicação mais ágil e, muitas vezes, conferir um tom mais coloquial ou poético à linguagem.


Diferença entre Elipse e Zeugma

É muito comum que os estudantes confundam a elipse com outra figura de linguagem muito semelhante: o zeugma. Embora ambas envolvam omissão de termos, há uma diferença técnica importante:

  • Elipse: O termo é omitido, mas não foi mencionado anteriormente. Ele é subentendido apenas pelo contexto geral.
  • Zeugma: O termo omitido já apareceu anteriormente na mesma oração ou no período anterior.

Exemplos para entender melhor:

  • Elipse: Na sala, só três estudando. (O verbo “estavam” foi omitido, mas não foi dito antes. O contexto permite entender.)
  • Zeugma: João gosta de música; Maria, de cinema. (O verbo “gosta” foi omitido na segunda oração, mas já havia sido citado antes.)

Portanto, toda vez que o termo não aparece em momento algum, é elipse. Se ele apareceu antes e foi omitido depois para evitar repetição, é zeugma.


Exemplos de Elipse no Cotidiano

Para ilustrar como a elipse faz parte da nossa comunicação, observe alguns exemplos comuns:

  1. “No final da tarde, [nós] fomos à praia.”
    → O pronome “nós” foi omitido, pois é facilmente compreendido pelo contexto.
  2. “Na mesa, apenas dois [estavam] conversando.”
    → O verbo “estavam” foi omitido, mas o sentido permanece claro.
  3. “De manhã, [eu] acordei cedo.”
    → O sujeito “eu” não é expresso, mas quem fala está subentendido.
  4. “Ela gosta de café, ele [gosta] de chá.”
    → O verbo “gosta” foi omitido na segunda oração, porém aqui é um caso de zeugma, não de elipse.

Perceba que a elipse aparece tanto na fala informal quanto na escrita literária ou jornalística. Ela é uma estratégia econômica da língua, que evita repetições desnecessárias e deixa as frases mais diretas.


Funções e Efeitos da Elipse

1. Economia Linguística

A principal função da elipse é tornar a comunicação mais econômica. Ao omitir termos que são facilmente compreendidos, o falante ou escritor evita repetições desnecessárias.

2. Naturalidade na Fala

Na oralidade, principalmente em conversas informais, a elipse aparece de forma espontânea. Ela acompanha o ritmo rápido da fala, onde nem sempre dizemos tudo literalmente.

Exemplo:

  • “Você vai à festa?”
  • “[Eu] Vou sim.” (O pronome “eu” foi omitido.)

3. Efeito Estético na Escrita

Na literatura, a elipse é um recurso estilístico que pode criar efeitos poéticos, sugerir sensações, criar ritmo ou até suspense.

Exemplo poético:

  • “No céu, nuvens. No peito, saudade.”
    (O verbo “há” foi omitido propositalmente, criando um tom mais sugestivo e poético.)

4. Foco nas Informações Essenciais

A elipse permite que o foco da frase fique nas informações mais relevantes, sem dispersões.


Elipse na Literatura

Grandes escritores utilizam a elipse como recurso estilístico para dar fluidez, expressividade e musicalidade aos textos. Veja este trecho do poema “No Meio do Caminho”, de Carlos Drummond de Andrade:

“No meio do caminho tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho…”

Perceba que na repetição “tinha uma pedra”, poderia haver uma introdução anterior, mas Drummond opta por uma estrutura direta e repetitiva, em que outras partes da construção frasal são deixadas implícitas. Embora aqui não seja elipse no sentido tradicional, a escolha de omitir complementos cria um efeito de ênfase e ritmo poético.

Outro exemplo claro de elipse na literatura está neste trecho:

“Na sala, silêncio. No relógio, pressa.”

Aqui há uma omissão clara dos verbos: “Na sala, [havia] silêncio. No relógio, [havia] pressa.” A elipse intensifica o caráter poético da frase.


Como Identificar a Elipse?

Para identificar a elipse, siga este passo a passo simples:

  1. Leia a frase atentamente.
  2. Procure termos que parecem estar faltando, como verbos, sujeitos, pronomes ou complementos.
  3. Verifique se esses termos podem ser facilmente subentendidos pelo contexto.
  4. Confirme se o termo não foi mencionado antes. Se tiver sido, é zeugma; se não, é elipse.

Quando Evitar a Elipse

Apesar de ser um recurso útil e muito presente na língua, a elipse deve ser usada com cuidado em determinados contextos, especialmente na escrita formal e acadêmica. O uso excessivo pode causar ambiguidades ou dificultar a compreensão, principalmente em textos que exigem clareza absoluta.

Exemplo problemático:

  • “Na pesquisa, dois [estavam] ausentes.” → Dependendo do texto, essa omissão pode gerar dúvidas. Quem são os dois? Ausentes de onde exatamente?

Por isso, é importante equilibrar o uso da elipse: ela deve favorecer a clareza e a elegância do texto, nunca gerar confusão.


Curiosidade: Elipse na Matemática

Muitos alunos, ao ouvirem falar em “elipse”, logo lembram da geometria. De fato, na matemática, a elipse é uma figura geométrica plana que representa uma curva fechada, semelhante a um círculo achatado.

Embora sejam homônimos, a elipse como figura de linguagem e a elipse geométrica não têm relação direta entre si, além da origem da palavra — que em ambos os casos vem do grego elleipsis, significando “omissão” ou “falta”. No caso da matemática, refere-se à “falta” de excentricidade de um círculo perfeito.


Conclusão

A elipse é uma figura de linguagem extremamente presente no nosso cotidiano, muitas vezes de maneira tão natural que sequer percebemos seu uso. Ela cumpre um papel fundamental na comunicação, tornando a linguagem mais dinâmica, econômica e, em muitos casos, mais expressiva.

Seja na fala, na escrita informal, na literatura ou na produção de textos acadêmicos (quando usada com moderação), a elipse mostra como a língua é viva, flexível e cheia de possibilidades.

Agora que você sabe identificar e usar a elipse, que tal prestar mais atenção nas suas conversas e textos do dia a dia? Aposto que vai se surpreender com a quantidade de vezes em que ela aparece sem sequer ser notada!


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