A língua portuguesa é rica, complexa e, ao mesmo tempo, encantadora. Ao nos comunicarmos, seja na fala ou na escrita, utilizamos diversos recursos para tornar nossa mensagem mais expressiva, poética ou persuasiva. Esses recursos são chamados de figuras de linguagem.
Entre as diversas classificações, uma das mais interessantes é a das figuras de repetição, também conhecidas como figuras de construção ou de harmonia. Elas são responsáveis por imprimir ritmo, ênfase, musicalidade e até emoção ao discurso, seja ele literário, publicitário ou coloquial.
Neste post, você vai entender o que são figuras de linguagem por repetição, quais são as principais, como identificá-las e, claro, verá exemplos práticos para nunca mais esquecer. Vamos juntos?
O Que São Figuras de Linguagem por Repetição?
Figuras de linguagem por repetição são recursos estilísticos que utilizam a repetição de sons, palavras ou expressões para criar efeitos específicos no texto ou na fala. Elas podem servir para:
- Dar ênfase a uma ideia;
- Produzir ritmo e musicalidade;
- Expressar emoção, ansiedade, indignação, alegria, entre outros sentimentos;
- Tornar o discurso mais memorável.
O uso da repetição não é algo gratuito: ele cumpre uma função comunicativa. Quando bem empregado, esse recurso valoriza a mensagem, desperta sensações e fixa o conteúdo na mente do receptor.
Por Que a Repetição é Importante?
Você já percebeu como músicas, poesias, discursos e até slogans publicitários fazem uso constante da repetição? Isso acontece porque nosso cérebro assimila melhor aquilo que é repetido. Além disso, a repetição tem o poder de intensificar sensações, provocar reflexões e gerar conexão emocional com quem lê ou ouve.
Grandes escritores, oradores e compositores sabem disso e usam esse recurso com maestria.
As Principais Figuras de Linguagem por Repetição
Vamos agora conhecer as figuras de repetição mais comuns e seus efeitos no discurso.
1. Anáfora
- Definição: É a repetição de uma ou mais palavras no início de versos, períodos ou orações consecutivas.
- Finalidade: Dar ênfase, reforçar uma ideia, criar ritmo.
- Exemplo:
“Se você grita, se você chora, se você luta…”
(Nesse exemplo, a expressão “se você” se repete no início de cada oração.)
- Outro exemplo famoso:
“Aqui tudo é paz. Aqui tudo é amor. Aqui tudo é felicidade.”
2. Epífora (ou epístrofe)
- Definição: É a repetição de uma ou mais palavras no final de versos, períodos ou orações.
- Finalidade: Refina a musicalidade e dá ênfase à ideia central.
- Exemplo:
“Vou lutar por você, pensar em você, viver para você.”
Perceba como a palavra “você” se repete no final de cada oração.
3. Polissíndeto
- Definição: É a repetição intencional de conjunções coordenativas, geralmente “e”, “nem”, “mas” e outras.
- Finalidade: Cria efeito de continuidade, intensidade, ansiedade, dramaticidade.
- Exemplo:
“E fala, e chora, e grita, e sofre…”
O uso excessivo do “e” imprime ritmo e reforça a ação contínua.
- Outro exemplo clássico:
“Nem amou, nem viveu, nem sorriu.”
4. Assíndeto
- Definição: É a omissão das conjunções onde normalmente seriam esperadas, provocando uma sequência de termos.
- Finalidade: Dá mais rapidez, dinamismo e dramaticidade ao texto.
- Exemplo:
“Vim, vi, venci.”
Perceba que não há conjunções unindo os verbos, o que torna a frase mais direta e impactante.
5. Pleonasmo (ou pleonasmo literário)
- Definição: É a repetição de uma ideia, reforçando o significado de forma expressiva. Diferente do pleonasmo vicioso (considerado erro), o pleonasmo estilístico é usado de forma intencional.
- Exemplos:
“Chovia uma chuva fria.”
“Vi com meus próprios olhos.”
“Subir para cima.”
No dia a dia, algumas dessas expressões podem ser vistas como redundantes, mas na literatura ou na linguagem poética, podem ser empregadas para reforçar a ideia.
6. Aliteração
- Definição: É a repetição de sons consonantais em uma sequência de palavras, produzindo efeito sonoro, rítmico ou estético.
- Exemplo:
“O rato roeu a roupa do rei de Roma.”
Perceba a repetição do som /r/, que dá musicalidade à frase.
- Outro exemplo:
“Vozes veladas, veludosas vozes…” (Cruz e Sousa)
Aqui, a repetição do som /v/ cria suavidade no verso.
7. Paranomasia
- Definição: É a aproximação de palavras que possuem sons parecidos, mas significados diferentes. Esse jogo sonoro gera humor, ironia ou efeito estético.
- Exemplo:
“Quem não cola, não sai da escola.”
“Trabalhar para não trabalhar.”
Aqui, há uma brincadeira com palavras semelhantes, criando efeito de humor ou reflexão.
Exemplos na Literatura, na Música e no Cotidiano
As figuras de linguagem por repetição são amplamente usadas em diversos contextos:
🎶 Na música:
“E agora, José?
E agora, você?
Você que é sem nome…” (Carlos Drummond de Andrade)
O uso da anáfora com “E agora” reforça a angústia existencial.
📖 Na literatura:
“Olha a faca! Olha a faca! Olha a faca!” (Nelson Rodrigues)
Aqui, a anáfora repete a expressão, criando tensão no diálogo.
📺 Na publicidade:
“Leite, leite, leite… é isso que te faz forte.”
O uso da repetição do produto fixa a marca na mente do consumidor.
Como Identificar Figuras de Repetição?
- Observe as palavras que se repetem: No início, meio ou fim das frases? Isso pode indicar anáfora, epífora ou aliteração.
- Perceba a presença ou ausência de conjunções: A repetição delas sugere polissíndeto; a omissão, assíndeto.
- Preste atenção aos sons: Se há repetição de consoantes (aliteração) ou palavras com sons parecidos (paranomasia).
- Analise o efeito: A repetição gera ritmo, ênfase, emoção ou humor? Isso confirma que se trata de uma figura estilística, não de erro gramatical.
Atenção: Quando a Repetição se Torna um Erro?
Nem toda repetição é bem-vinda. O pleonasmo vicioso ocorre quando há uma redundância desnecessária, que empobrece o texto. Por exemplo:
- “Entrar para dentro” – redundante, pois entrar já pressupõe ir para dentro.
- “Sair para fora” – desnecessário.
Por isso, é fundamental diferenciar o uso estilístico (intencional) do erro de construção.
Conclusão: Por Que Dominar as Figuras de Repetição?
Dominar as figuras de linguagem por repetição é essencial para quem deseja:
- Produzir textos mais expressivos, criativos e impactantes;
- Interpretar obras literárias com mais profundidade;
- Ter mais segurança na análise de textos em provas, vestibulares e concursos;
- Apreciar a beleza da língua e perceber como ela se molda aos sentimentos humanos.
Quando usadas com consciência, as figuras de repetição transformam simples palavras em verdadeiras obras de arte.
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