Você já leu ou ouviu uma frase em que as palavras parecem estar “fora da ordem”, mas, mesmo assim, fazem total sentido e soam até mais bonitas ou poéticas? Pois bem, isso tem nome: hipérbato. Essa é uma das figuras de linguagem mais encantadoras da língua portuguesa, muito presente em textos literários, poesias, músicas e até em discursos do dia a dia.
Neste artigo, você vai entender o que é o hipérbato, como ele funciona, qual sua função nos textos e verá muitos exemplos práticos. Além disso, vai descobrir como utilizá-lo para enriquecer sua escrita, seja em redações, seja em textos mais criativos.
ATENÇÃO! VOCÊ PRECISA LER ESSES TÓPICOS PARA ENTENDER A ESTRUTURA
- O QUE SÃO FIGURAS DE LINGUAGEM?
- FIGURAS DE PALAVRAS OU SEMÂNTICAS
- FIGURAS DE PENSAMENTO OU SENTIDO
- FIGURAS DE SINTAXE OU CONSTRUÇÃO
- FIGURAS DE SOM OU HARMONIA
- FIGURAS DE REPETIÇÃO
O Que é Hipérbato?
O hipérbato é uma figura de sintaxe que consiste na inversão da ordem natural dos termos na oração, com o objetivo de causar ênfase, efeito estilístico ou sonoridade mais agradável.
De forma simples, o hipérbato ocorre quando alteramos a sequência direta dos elementos de uma frase. Na norma padrão da língua portuguesa, a ordem mais comum é Sujeito + Verbo + Complemento + Adjuntos. Quando quebramos essa sequência, surge o hipérbato.
Definição formal:
Hipérbato é a figura de linguagem que consiste na inversão da ordem direta dos termos da oração, com o intuito de enfatizar determinada palavra, criar efeitos sonoros, rítmicos ou estilísticos.
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Gabarito:
C) Hipérbato
(Explicação: hipérbato é a figura de linguagem que consiste na inversão da ordem direta dos termos na oração. A ordem mais comum seria: “O vento gelado da madrugada desceu das montanhas.”)
Qual a Função do Hipérbato?
O uso do hipérbato não acontece por acaso. Ele tem funções bem definidas na comunicação, especialmente na linguagem artística e literária. Veja alguns dos principais efeitos que o hipérbato produz:
- Ênfase: Destaca palavras ou expressões importantes ao colocá-las em posições de destaque na frase.
- Ritmo: Melhora o ritmo e a sonoridade em textos poéticos, letras de músicas e discursos.
- Estilo: Confere beleza, elegância e sofisticação ao texto, tornando-o mais expressivo.
- Oratória: Em discursos, pode servir para prender a atenção do ouvinte e criar impacto emocional.
Hipérbato x Anástrofe x Sínquise: Existe Diferença?
É comum que o hipérbato seja confundido com outras figuras de sintaxe, como anástrofe e sínquise, já que todas envolvem deslocamento de palavras.
Diferença principal:
- Anástrofe: Deslocamento simples, geralmente de um termo apenas, como um adjetivo ou adjunto adverbial.
- Hipérbato: Deslocamento mais complexo, envolvendo vários elementos da oração, alterando significativamente a ordem direta.
- Sínquise: Quando há tanta inversão que a frase se torna difícil de entender, até causando ambiguidade.
Portanto, podemos dizer que a anástrofe é um tipo mais simples de hipérbato, enquanto a sínquise é uma forma extrema e, muitas vezes, prejudicial à clareza.
Exemplos de Hipérbato na Prática
Nada melhor do que observar exemplos para entender como o hipérbato funciona na prática. Veja alguns bem conhecidos:
Na música:
- “De tudo ao meu amor serei atento.”
(Vinícius de Moraes)
Ordem direta: “Serei atento de tudo ao meu amor.“
O deslocamento da expressão “de tudo” gera um tom mais poético. - “Por você, eu faria tudo outra vez.”
Ordem direta: “Eu faria tudo outra vez por você.“
Na literatura:
- “Ouviram do Ipiranga as margens plácidas de um povo heroico o brado retumbante.”
(Hino Nacional Brasileiro)
Ordem direta: “As margens plácidas do Ipiranga ouviram o brado retumbante de um povo heroico.“ - “As armas e os barões assinalados, que da ocidental praia Lusitana…”
(Camões, Os Lusíadas)
Ordem direta: “Canto as armas e os barões assinalados, que da ocidental praia Lusitana…“
No cotidiano:
- “Na vida tudo se aprende.”
Ordem direta: “Tudo se aprende na vida.“
Perceba que o uso do hipérbato torna a frase mais expressiva, mais bonita e, muitas vezes, mais impactante.
Hipérbato na Redação: Usar ou Não Usar?
Se você está se preparando para vestibulares, ENEM ou concursos, surge uma dúvida comum: Posso usar hipérbato na redação?
Sim, mas com cautela.
O uso moderado do hipérbato pode enriquecer seu texto, mostrando domínio da linguagem e capacidade estilística. No entanto, é importante que:
- A inversão não prejudique a clareza.
- Não haja excessos que tornem o texto confuso.
- Seja utilizada, preferencialmente, na introdução ou na conclusão, onde o efeito estilístico pode ser mais bem aproveitado.
Exemplo aplicado na redação:
- “À construção de uma sociedade mais justa, devem-se esforços coletivos e contínuos.”
Essa inversão dá ênfase ao objetivo “à construção de uma sociedade mais justa”.
Como Identificar um Hipérbato?
Na análise de textos, identificar um hipérbato é relativamente simples. Basta observar se houve alteração da ordem direta da frase.
Passos para identificar:

Dica de ouro:
Se o deslocamento for de um único elemento, como um adjetivo após o substantivo, é anástrofe. Se envolver mais de um termo, geralmente é hipérbato.
Exercícios Para Fixar o Conteúdo
Vamos praticar? Veja se você consegue identificar o hipérbato nas frases abaixo:
Frase 1:
“Da vida simples, guardo belas lembranças.”
Ordem direta: “Guardo belas lembranças da vida simples.” Hipérbato presente.
Frase 2:
“Naquele momento, tudo se transformou.”
Ordem direta: “Tudo se transformou naquele momento.” Simples inversão – pode ser visto como anástrofe.
Frase 3:
“Com esperança no olhar, seguem os viajantes.”
Ordem direta: “Os viajantes seguem com esperança no olhar.” Hipérbato.
Frase 4:
“A teus pés, rendo minha gratidão.”
Ordem direta: “Rendo minha gratidão a teus pés.” Hipérbato, com tom poético evidente.
Conclusão: O Poder do Hipérbato na Comunicação
O hipérbato é uma ferramenta poderosa na construção de textos mais expressivos, sonoros e elegantes. Quando bem utilizado, pode transformar uma frase simples em uma expressão poética, marcante e cheia de beleza.
Seja na literatura, na música, no discurso ou na redação, o hipérbato prova que a linguagem não é apenas um meio de comunicação, mas também uma forma de arte.
Agora que você domina esse conceito, que tal começar a observar como o hipérbato aparece nos textos que você lê e até mesmo tentar aplicá-lo em sua própria escrita? Com certeza, suas produções ficarão muito mais ricas e interessantes!
