Quando ouvimos ou lemos uma frase bem construída, muitas vezes sentimos uma harmonia que nem sempre conseguimos explicar. Essa sensação de equilíbrio e clareza pode ser resultado de uma figura de linguagem chamada paralelismo. Neste post, vamos explorar o que é o paralelismo, como ele funciona, por que é tão importante na comunicação e como usá-lo de forma eficaz na escrita e na fala.
O que é Paralelismo?
O paralelismo é uma figura de linguagem que consiste na repetição de estruturas gramaticais semelhantes dentro de um enunciado ou em frases próximas. Seu objetivo é organizar ideias de maneira simétrica e equilibrada, facilitando a compreensão e proporcionando beleza ao texto.
Exemplo clássico:
“Errar é humano, perdoar é divino.”
Nesse exemplo, temos duas orações com estrutura semelhante:
- Verbo no infinitivo + verbo de ligação + adjetivo:
Errar é humano
Perdoar é divino
A repetição do padrão sintático cria uma harmonia que torna a frase mais agradável e fácil de memorizar.
Tipos de Paralelismo
O paralelismo pode ocorrer de diferentes formas, dependendo dos elementos que são repetidos. Os principais tipos são:
1. Paralelismo Sintático
É o mais comum. Ocorre quando há repetição de estruturas gramaticais, como sujeitos, verbos, complementos, advérbios etc.
Exemplo:
“Ele estudou, ele trabalhou, ele venceu.”
Três orações simples com a mesma estrutura: sujeito + verbo no passado.
2. Paralelismo Semântico
É o paralelismo de ideias, quando os significados ou os conceitos se organizam de forma simétrica, mesmo que a estrutura gramatical mude um pouco.
Exemplo:
“Alguns sonham com a liberdade, outros lutam por ela.”
As ideias contrastantes (sonhar x lutar) seguem uma lógica paralela.
3. Paralelismo Sonoro
Acontece quando há repetição de sons ou ritmos, criando uma musicalidade no texto. É muito usado em poesia e música.
Exemplo:
“Canta, encanta, levanta, espanta.”
A repetição do som final “anta” dá ritmo e melodia à frase.
Paralelismo na Literatura e na Música
O paralelismo é um recurso muito valorizado na arte da palavra. Escritores, poetas e compositores usam essa figura para reforçar ideias e criar textos mais marcantes.
Na Bíblia:
“O Senhor é meu pastor; nada me faltará.
Deitar-me faz em verdes pastos, guia-me mansamente às águas tranquilas.”
(Salmo 23)
Aqui, vemos o paralelismo na repetição das estruturas e na progressão das ideias: ação + complemento + ação + complemento.
Na música:
“É preciso amar as pessoas
Como se não houvesse amanhã
Porque se você parar pra pensar
Na verdade não há.”
— Legião Urbana
A repetição de estruturas e a cadência das frases criam um efeito emocional muito forte, graças ao paralelismo.
Por que usar o Paralelismo?
1. Clareza
Estruturas paralelas ajudam o leitor ou ouvinte a entender melhor o que está sendo dito, pois há uma repetição que guia a interpretação.
2. Ênfase
Quando usamos estruturas semelhantes, estamos destacando a relação entre as ideias — seja de contraste, de comparação ou de complemento.
3. Beleza estética
O paralelismo torna a linguagem mais fluida, harmônica e elegante. É um recurso estilístico muito usado em discursos, textos literários e canções.
4. Persuasão
Discursos políticos e publicitários frequentemente usam o paralelismo para reforçar ideias e convencer o público.
Exemplo político:
“Não perguntes o que teu país pode fazer por ti.
Pergunta o que tu podes fazer por teu país.”
— John F. Kennedy
O paralelismo dá força retórica à frase.
Paralelismo e Coesão Textual
Em textos dissertativos, o uso de paralelismo pode contribuir para a coesão textual, que é a conexão lógica entre as partes de um texto. Ao manter um padrão de construção nas frases, o autor facilita o entendimento e evita ambiguidades.
Veja um exemplo com e sem paralelismo:
Sem paralelismo:
“O autor propõe novas ideias, argumenta com clareza e está tentando convencer o leitor.”
A última oração quebra o padrão dos verbos no presente do indicativo.
Com paralelismo:
“O autor propõe novas ideias, argumenta com clareza e convence o leitor.”
Agora, temos três verbos no presente simples, o que torna a frase mais clara e elegante.
Erros comuns ao usar o Paralelismo
Apesar de ser uma ferramenta poderosa, o paralelismo deve ser usado com cuidado. Um erro comum é quebrar a simetria gramatical, o que prejudica a fluidez e a clareza do texto.
Veja este exemplo incorreto:
“Gosto de correr, nadar e de andar de bicicleta.”
Aqui, temos um desequilíbrio: “correr” e “nadar” estão sozinhos, mas “andar” vem com “de”.
Correção com paralelismo:
“Gosto de correr, de nadar e de andar de bicicleta.”
Ou:
“Gosto de correr, nadar e andar de bicicleta.”
Ambas as formas mantêm o paralelismo.
Dicas para aplicar o Paralelismo na sua escrita
- Revise seus textos procurando por sequências de elementos: verbos, adjetivos, substantivos, frases. Eles estão organizados da mesma forma?
- Use listas e enumerações com a mesma estrutura gramatical.
- Leia em voz alta. Se a frase “trava” ou soa desigual, talvez falte paralelismo.
- Aproveite em títulos e subtítulos, para criar impacto:
- “Estudar com foco, aprender com prazer, crescer com constância.”
- Observe os mestres: Leia discursos históricos, poesias e letras de música. O paralelismo está sempre lá, em diferentes formas.
Conclusão
O paralelismo é muito mais do que uma repetição de estruturas: é uma maneira de pensar, organizar e expressar ideias de forma clara, coerente e esteticamente agradável. Quando usado corretamente, esse recurso pode transformar um texto comum em algo envolvente e memorável.
Seja você estudante, professor, escritor ou apenas alguém que gosta de se comunicar bem, dominar o paralelismo é um passo importante para evoluir na linguagem. Comece a observá-lo nos textos que você lê e pratique nos seus próprios textos — você vai perceber a diferença!
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